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Mar

Sempre amei o mar. Deve ser coisa de quem nasceu no cerrado, acostumado desde a mais tenra idade às umidades relativas ao sul dos 20%.

Minha mãe diz que meu primeiro contato com o mar foi um caso de amor à primeira vista. Quem me conhece há alguns anos possivelmente já ouviu a história, mas vamos relembrá-la assim mesmo. Eu era muito pequeno, e a praia era novidade em todos os aspectos: a sensação da areia, o cheiro do oceano, o barulho das ondas. Conta minha mãe que me desvencilhei imediatamente das mãos adultas que me seguravam e arremeti em direção à água, como se encantado por sereias.

Minha precoce tentativa de suicídio inocente não foi frutífera (obviamente) porque os adultos me alcançaram antes da rebentação. Pessoalmente, não me lembro desse episódio, mas não tenho porque duvidar de minha mãe. O episódio marítimo mais antigo de que me lembro foi, na verdade, algo traumatizante.

Não muitos anos depois (acho que eu devia ter uns quatro anos), em uma noite especialmente enluarada de João Pessoa, estávamos eu e meu padrasto à toa na vida, quando ele teve uma grande ideia: que tal se fôssemos tomar banho de mar à noite, com a maré forte subindo? Meu limitado senso crítico considerou a ideia excelente. E lá fomos nós para a praia de Tambaú.

Não me lembro do mar em Tambaú ser especialmente agressivo, mas naquela noite as ondas batiam com força, e não havia ninguém se arriscando dentro d'água. Nossa desventura noturna durou exatamente o tempo necessário para levarmos um caixote. Me lembro de tudo: do impacto da água, de ser emborcado pela onda cheia de areia da rebentação, do gosto do sal, da sensação do meu joelho sendo arrastado pelo chão arenoso, da perna do meu padrasto batendo na minha cabeça.

Nossa sorte foi que a onda, quando quebrou, nos arremessou longe da água. Tivesse nos puxado de volta... Sei lá o que aconteceria. Meu padrasto teve um súbito ataque de juízo e considerou pouco prudente repetir o mergulho. Cuspi um resto de água salgada e voltamos para casa, alquebrados, sangrando, com galos na cabeça e... Rindo. Rindo às gargalhadas. Houve algo de catártico na experiência. E, de qualquer forma, muito mais perigosa seria minha mãe quando descobrisse o que tinha acontecido.

Devo ser uma espécie de Amélia marítima. Porque depois desse dia, depois da maior surra que já levei do mar, passei a amá-lo ainda mais.

A presente postagem foi inspirada por esta outra postagem.